Hedy Lamarr

Hedy Lamarr, nascida Hedwig Eva Maria Kiesler, foi muito mais do que um rosto bonito em Hollywood. Por trás do glamour das telas, escondia-se uma mente brilhante e curiosa, responsável por uma invenção que mudaria a comunicação moderna: o sistema de salto de frequência, a base para o Wi-Fi, Bluetooth e GPS que usamos hoje.
De Viena para Hollywood: A Vida de uma estrela e uma mente inquieta
Nascida em 9 de novembro de 1914, em Viena, Áustria-Hungria, Hedy era filha única de uma pianista e um gerente financeiro de banco. Desde cedo, demonstrou interesse pelas artes, estudando balé e piano, e até vencendo um concurso de beleza aos 12 anos. No entanto, sua curiosidade ia além do palco. Seu pai, com quem tinha conversas sobre política, ciência e tecnologia, foi uma grande inspiração para seu futuro como inventora. Aos 5 anos, ela já desmontava caixas de música, revelando uma curiosidade que nunca a abandonaria.
Ainda jovem, Hedy casou-se com Friedrich Mandl, um rico fabricante de munições e armas. Apesar da desaprovação de seus pais, que temiam as conexões de Mandl com figuras como Benito Mussolini e Adolf Hitler, o casamento aconteceu. Mandl era um marido controlador e possessivo, que a impediu de continuar sua carreira de atriz e a tratava como prisioneira em seu castelo. No entanto, foi durante as reuniões e festas que Hedy acompanhava Mandl, onde ele interagia com cientistas e especialistas em tecnologia armamentista, que seu interesse pela ciência aplicada floresceu. Ela devorava os livros da vasta biblioteca da mansão, absorvendo conhecimento.
A invenção que mudou o mundo: O salto de frequência
Em 28 anos de carreira, Hedy Lamarr participou de mais de 30 filmes, mas sua contribuição mais significativa veio fora dos sets. Durante a Segunda Guerra Mundial, ela fez uma invenção crucial com o compositor George Antheil: um sistema de comunicações para as Forças Armadas dos Estados Unidos.
A ideia surgiu de uma brincadeira ao piano. Hedy e Antheil experimentavam controlar instrumentos, repetindo notas em diferentes escalas. Eles perceberam que se um transmissor de rádio e um receptor de torpedo pudessem “saltar” simultaneamente de frequência para frequência, seria impossível para o inimigo localizar e bloquear a mensagem antes que ela se movesse. Essa abordagem ficou conhecida como “salto de frequência”.
Juntos, Lamarr e Antheil submeteram a ideia ao Departamento de Guerra norte-americano em junho de 1941, mas foi recusada. Em agosto de 1942, a invenção foi patenteada por Antheil e “Hedy Kiesler Markey” (seu nome de casada na época). A versão inicial trocava 88 frequências, como as 88 teclas de um piano, e era destinada a despistar radares. No entanto, a tecnologia da época não permitia sua concretização.
O legado e o reconhecimento tardio
O projeto de Lamarr e Antheil só foi concretizado em 1962, quando a patente já havia expirado. A empresa Sylvania adaptou a invenção para uso militar, e durante a Crise dos Mísseis Cubanos de 1962, navios dos EUA utilizaram torpedos guiados por um sistema de “salto de frequência”. Apesar da importância, Lamarr e Antheil nunca receberam compensação financeira pelo uso de seu conceito.
A ideia do salto de frequência serviu de base para a moderna tecnologia de comunicação, como o COFDM (usado em conexões Wi-Fi) e o CDMA (usado em telefones celulares). O valor de sua invenção é estimado em US$ 30 bilhões.
O reconhecimento oficial de Hedy Lamarr veio tarde. Em 1997, a Electronic Frontier Foundation concedeu-lhe o EFF Pioneer Award. No mesmo ano, o Governo dos Estados Unidos deu-lhe uma menção honrosa por “abrir novos caminhos nas fronteiras da eletrônica”. Postumamente, em 2014, seu nome foi inserido no National Inventors Hall of Fame. Em sua honra, o dia 9 de novembro, seu aniversário, foi instituído na Alemanha como o Dia do Inventor.
Hedy Lamarr nos lembra que a inovação não tem limites de gênero ou profissão. Você não precisa ser um gênio da tecnologia para mudar a tecnologia. Sua história é um poderoso lembrete da contribuição feminina para a ciência e a tecnologia, e um convite para que mais mulheres se inspirem e se dediquem às áreas de STEM. Da próxima vez que você se conectar a uma rede Wi-Fi ou fizer uma ligação, lembre-se de Hedy Lamarr, a atriz de Hollywood que, com sua coragem e inteligência, ajudou a construir o mundo conectado em que vivemos.