Equipe ENIAC

As Garotas do ENIAC

Kathleen, Jean, Frances, Marlyn, Betty e Ruth, as mulheres do ENIAC

Por Ana Beatriz

Graduadas em Matematica, essas mulheres formavam um grupo distinto e ao mesmo tempo muito parecido. Pertencentes a origens e religioes diferentes, elas trabalharam juntas na produção do ENIAC, o primeiro computador eletrônico de uso geral, sendo as principais programadoras do computador que mudou os rumos da informática.

Durante a Segunda Guerra Mundial, havia uma escassez de trabalhadores, já que a maioria dos homens em idade laboral era convocada para atuar como soldados. Em 1942, o impensável aconteceu. Este anúncio de “procura-se emprego” apareceu no Philadelphia Evening Bulletin: “Procura-se mulheres com especialização em matemática”. O anúncio foi colocado pelo exército dos EUA, que estava contratando mulheres para trabalhar na Moore School of Electrical Engineering, na Universidade da Pensilvânia. Kathleen McNulty Mauchly Antonelli, Jean Jennings Bartik, Frances Elizabeth Snyder, Frances Bilas Spence, Marlyn Wescoff Meltzer e Ruth Lichterman Teitelbaum foram as mulheres contratadas, além de cinco homens. 

Kathleen McNulty

Kathleen “Kay” McNulty (mais tarde Mauchly Antonelli)

Kathleen McNulty  (1921-2016),  era a mais jovem do grupo, com apenas 21 anos, recém-formada em matemática pelo Chestnut Hill College, ela foi contratada pelo Exército dos Estados Unidos para trabalhar no Laboratório de Pesquisa Balística. Lá, acabou se tornando uma das seis mulheres escolhidas para programar o ENIAC. Ela rapidamente se destacou, criando programas que ajudaram no desenvolvimento de armamentos mais precisos. Alguns destaques são, um programa que calculava trajetórias de mísseis balísticos, outro que fazia  equações diferenciais e também um de tabelas de artilharia. Depois da guerra, seguiu trabalhando no laboratório e se tornou uma referência na área de computação. Ela se aposentou em 1985 e viveu até os 95 anos, deixando um legado enorme para a história da tecnologia. 

As Mulheres ajustando o ENIAC

Kathleen McNulty  sabia que nada parecido já tinha aparecido fora da seção “Male Help Wanted” de qualquer jornal antes de os EUA entrarem na segunda guerra mundial. Isso foi durante uma época em que as mulheres eram contratadas para fazer trabalho de computação – uma tarefa que era considerada “muito burocrática” para os engenheiros homens. Então, essa promoção foi bem revolucionária, já que as mulheres agora eram “operadoras de máquinas” – controlando o circuito eletrônico do computador que continha dezenas de milhares de interruptores, fios e bandejas de dígitos.

Jean Jennings Bartik

Jean Jennings Bartik

Jean Jennings Bartik (1921-2011), era super inteligente desde nova e começou a estudar matemática e física aos 12 anos, obteu um diploma em Matematica na Northwest Missouri State Teachers Collegeem em 1945. Foi contratada pelo Exército para trabalhar no projeto do ENIAC antes de se formar na faculdade, em 1943. O trabalho dela foi essencial durante a Segunda Guerra, ajudando a criar armas mais precisas com seus cálculos. Depois da guerra, seguiu na área de computação e virou especialista, chegando a trabalhar como consultora para empresas como International Business Machines Corporation (IBM) e Universal Automatic Compute (UNIVAC). Ela se aposentou em 1986 e faleceu em 2011, aos 89 anos.

Frances Elizabeth

Frances Elizabeth “Betty” Holberton

Betty Snyder Holber (1917 – 2001) além de uma matemática e física brilhante, também era uma pianista talentosa. Após a formatura do ensino médio, Snyder Holber se matriculou na Pennsylvania State University, onde se formou em matemática no ano de 1943. Ela foi uma das seis mulheres contratadas para programar o ENIAC durante a Segunda Guerra Mundial. Nesse período, tambem desenvolveu um programa para calcular equações diferenciais, que foi usado para desenvolver armas mais complexas. Após a guerra, Snyder Holber continuou a trabalhar no Laboratória de Pesquisa Balística do Exército e se tornou uma das principais especialistas em computação. Ela se aposentou em 1986 e faleceu em 2011, aos 90 anos.

Marlyn Wescoff

Marlyn Wescoff (mais tarde Meltzer)

Marlyn Wescoff (1922-2017) foi uma criança prodígio e comecou a estudar matematica e ciências aos 10 anos de idade. Ela se matriculou na Drexel University, onde se formou em matematica em 1943 e no mesmo ano Marlyn Wescoff foi contratada pelo Exército dos Estados Unidos para trabalhar no Laboratório de Pesquisa Balística do Exército. Além de participar na criacao do ENIAC, ela tambem foi responsável por desenvolver um programa para calcular trajetórias de bombas, esse programa foi usado para desenvolver bombas mais precisas que poderiam atingir alvos com mais segurança. Se aposentou em 1986 e faleceu em 2017, aos 95 anos.

Frances Bilas Spence

Frances Bilas Spence

Frances Bilas (1921-2016) tambem foi uma criança proígio que comecou  a estudar ciências e matematica aos 10 anos de idade.Apos o ensino médio, Francês se matriculou na Moore School of Electrical Engineering da Universidade da Pensilvânia, onde se formou com um diploma em engenharia elétrica em 1943. Ainda no mesmo ano, Frances Bilas foi contratada pelo Exército dos Estados Unidos para trabalhar no Laboratório de Pesquisa Balística do Exército.Ela desenvolveu um programa que foi usado para desenvolver armas mais precisas que poderiam atingir alvos a grandes distâncias. Se aposentou em 1986 e faleceu em 2016, aos 95 anos.

Ruth Lichterman

Ruth Lichterman (mais tarde Teitelbaum)

Ruth Lichterman (1921-2010) foi outra criança prodígio que começou a estudar ciências e matemática aos 10 anos de idade. Após a formatura do ensino médio, Ruth se matriculou no Hunter College, onde se formou com um diploma em matemática em 1943. Também no mesmo ano, Lichterman foi contratada pelo Exército dos Estados Unidos para trabalhar no Laboratório de Pesquisa Balística do Exército. Foi responsável por criar um programa que foi usado para desenvolver minas mais precisas que poderiam atingir alvos com mais segurança. Ela se aposentou em 1986 e faleceu em 2010, aos 89 anos.

As Pioneiras Invisíveis da Computação

Todas elas foram contratadas pelo exército para trabalhar na seção de computadores da Filadélfia, e receberam o título de Assistente de Computador. Isso significava que sua principal tarefa seria desenvolver longos cálculos em máquinas mecânicas antiquadas. As mulheres recebiam um salário inicial de US$1.620, o dobro do que qualquer secretária ganharia na época, e isso não necessariamente implicava em um reconhecimento, já que elas costumavam ser classificadas como “subprofissionais” ou “subcientíficas” simplesmente por seu gênero.

Por isso, cada uma das mulheres envolvidas no projeto precisou ser excepcional para alcançar o sucesso. Marlyn Meltzer é um exemplo, pois nunca errou nenhum dos cálculos solicitados a ela. O desenvolvimento delas não veio sem obstáculos sexistas, como o caso de um médico que realizou um exame físico de admissão em Jean Bartik, e a convidou para completá-lo em sua casa.

Programadoras em ação. Cada uma das mulheres precisou ser excepcional para alcançar o sucesso.

Agora, aprender a operar esta máquina não era uma tarefa fácil. Enquanto eles receberam os projetos para se familiarizar com o funcionamento da máquina, levaram seis meses para aprender completamente a operá-la. Durante esse tempo, eles tiveram que “depurar” quaisquer falhas, rastejar para dentro da máquina para consertar quaisquer tubos de vácuo que estivessem queimado e tomar notas detalhadas e abundantes sobre o que consertaram. Uma das muitas realizações surpreendentes dessas mulheres pioneiras foi o sistema que elas desenvolveram para identificar a localização de qualquer tubo defeituoso na enorme máquina.

Principais Contribuições

A contribuição das mulheres para o projeto do ENIAC e para o desenvolvimento da tecnologia de computadores em geral foi essencial. Elas ajudaram a abrir caminho para a participação feminina nos campos da tecnologia e da engenharia, e inspiraram muitas outras mulheres a seguir carreiras semelhantes.

O ENIAC foi desenvolvido por uma equipe de onze integrantes, dos quais seis eram mulheres. Apesar de sua contribuição fundamental, elas não receberam o devido reconhecimento na época. As programadoras não foram convidadas para o jantar comemorativo após a bem-sucedida demonstração da máquina em 1946, nem participaram das celebrações dos 50 anos da invenção. O reconhecimento por sua atuação só veio várias décadas depois.

A programação do ENIAC era complexa e trabalhosa: exigia o uso de fios e interruptores para configurar as operações, o que tornava o processo lento e suscetível a erros. Cada nova tarefa exigia uma reprogramação completa, e os dados eram armazenados em cartões perfurados. Antes disso, o grupo realizava cálculos manuais e usava máquinas como o analisador diferencial, capaz de reduzir o tempo de certos cálculos de 40 para 15 minutos.

Mulheres programadoras do ENIAC trabalhando em suas configurações

Na primeira apresentação do ENIAC à imprensa, foi demonstrado um cálculo de trajetória de míssil, elaborado por Betty Holberton e Jean Bartik. Mesmo com o sucesso da demonstração e a relevância dos resultados, as programadoras continuaram sem o reconhecimento merecido por décadas.

Parte do grupo de mulheres programadoras do ENIAC

Após sua participação no projeto ENIAC, Holberton e Bartik foram contratadas pela Eckert-Mauchly Computer Corporation (EMCC), empresa voltada ao desenvolvimento de computadores para fins comerciais e militares. Lá, contribuíram para a criação do UNIVAC (Universal Automatic Computer), reconhecido como o primeiro computador comercial moderno da história.

Reconhecimento e Prêmios

O reconhecimento das mulheres programadoras do ENIAC só começou a acontecer a partir da década de 1980. Na época, Kathy Kleiman, uma jovem programadora, encontrou uma fotografia das seis mulheres nos arquivos do Computer History Museum, na Califórnia. Os funcionários do museu disseram que elas eram apenas modelos contratadas para embelezar a apresentação da máquina. No entanto, após investigar mais a fundo, Kleiman descobriu que eram, na verdade, as verdadeiras programadoras do ENIAC.

Kathy Kleiman, Jean Bartik, Marlyn Meltzer, Kay Antonelli, Betty Holberton

Décadas depois, em 1997, essas pioneiras foram finalmente homenageadas com o Prêmio Lovelace, concedido pela Association for Computing Machinery (ACM), o mais importante da ciência da computação. No mesmo ano, foram introduzidas no Hall da Fama Internacional das Mulheres em Tecnologia, como forma de reconhecimento por sua contribuição histórica.

Kathy Kleiman dedicou-se a contar a história dessas mulheres. Em seu livro Proving Ground, ela narra como elas enfrentaram o desafio de programar o primeiro computador totalmente eletrônico do mundo — sem linguagens de programação ou códigos de instrução, usando apenas linguagem de máquina. Também produziu, em parceria com a PBS, o documentário The Computers: The Remarkable Story of the ENIAC Programmers, no qual as próprias protagonistas relatam suas experiências.

Como parte desse esforço de resgate histórico, foi fundado o Projeto ENIAC Programmers, liderado por Kleiman. O projeto tem como objetivo divulgar a trajetória de mulheres pioneiras na tecnologia e, mais recentemente, têm investigado a participação feminina no desenvolvimento do UNIVAC. Além disso, promove palestras, exibições e leituras de obras sobre o tema.

Outros materiais educativos também foram produzidos nesse movimento de valorização da memória dessas mulheres. Um exemplo é o e-book The Computer Wore Heels, desenvolvido como parte do esforço para reescrever a história dos primeiros computadores, agora incluindo suas verdadeiras protagonistas.

Essas pioneiras também foram homenageadas no filme Top Secret Rosies: The Female Computers of World War II (2010), que resgata a história das “computadoras” — como eram chamadas as mulheres responsáveis por cálculos balísticos confidenciais para o Exército dos EUA durante a Segunda Guerra Mundial. O título do filme faz referência à icônica “Rosie the Riveter”, símbolo das mulheres que assumiram postos de trabalho masculinos durante o conflito. A obra foi dirigida por Margarethe von Trotta e contou com Lynn Redgrave interpretando Kathleen McNulty, uma das programadoras do ENIAC.